Patrono - EB/JI Sarah Afonso

Nascida no seio de uma família burguesa, filha de um oficial do Exército, passou a juventude no Minho, que a terá inspirado para uma temática popular de grande beleza e ingenuidade. Em 1924, solteira, parte sozinha para Paris, depois de concluir os estudos na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde foi aluna de Columbano Bordalo Pinheiro. Será em Paris que expõe, com sucesso, no Salon d'Automne.

Entre 1928 e 1929, trabalhou no ateliê de uma modista fazendo croquis de moda, gosto que lhe ficou, tendo colaborado mais tarde com desenhos de moda para revistas portuguesas. Contra todas as convenções, torna-se a primeira mulher a frequentar o café A Brasileira, do Chiado, então exclusivamente reservado ao sexo masculino.

Contemporânea de Bernardo Marques, Carlos Botelho, entre outros, expôs no primeiro Salão de Artistas Independentes em 1930. Andou um colégio de freiras francesas, que teve de fechar por causa da Revolução Francesa de 1910.

Casou-se aos 35 anos com José de Almada Negreiros, tendo conciliado a vida de mãe de família e de pintora. Fez uma exposição individual em 1939 e participou na Exposição do Mundo Português, em 1940. Em 1944 recebeu o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.

Em 1953 integrou a delegação portuguesa na Bienal de São Paulo. Dedicou especial atenção às festas populares e às tradições portuguesas em cores doces e luminosas. Por ocasião do centenário do seu nascimento, em 1999, realizaram-se exposições comemorativas em Viana do Castelo e Porto.

O quadro insere-se na última fase do percurso de Sarah Afonso como pintora. É, talvez, a mais conhecida e sugestiva obra da Artista, onde se destacam: o carácter modernista e poético da composição, a variedade cromática, a ingenuidade do desenho, o ambiente minhoto através de elementos culturais e o simbolismo do tema.

A obra associa três cenas, dispostas em três planos. Em primeiro lugar, o casamento propriamente dito; a banda de música (que alegra festas e romarias) e, mais além à esquerda, a casa e uma junta de bois ( a calma rural e o trabalho quotidiano).

Distribuição harmónica da composição, cujo eixo está centrado nos noivos. Em pose sob um um arco de arraial minhoto de configuração simétrica ( dois leões e decoração geometrizada de papel colorido) que remata em duas bandeiras nos mastros laterais e por uma estrela do mar no mastro superior.

A "foto" de casamento envolve-se num ambiente pitoresco de inspiração minhota que, além do "cenário", se traduz nos elementos decorativos do véu e do vestido da noiva. A ausência de perspectiva faz recair a atenção no "retrato familiar" de casamento em que se representam as figuras humanas como bonecos, tal como os que produziam os barristas minhotos. Pitoresco e ingenuidade por opção, uma vez que Sarah possuía uma boa técnica no desenho com provas dadas nas Maternidades e Retratos.

No Casamento vislumbra-se uma certa influência modernista de Almada: os rostos, os olhos rasgados, as pernas e a posição dos pés.

Quanto ao cromatismo dir-se-á que corresponde ao "universo das cores" da Artista, já anteriormente utilizado nos retratos dos filhos: o predomínio do azul e uma paleta de vermelho ( a luz e as sombras do Minho).

O tema pode ter sido surgido da observação de "casamentos no Minho", uma memória dos tempos de infância e das férias que, depois de casada, desfrutou em Moledo. Mas também poderá interpretar-se como um símbolo do amor.

A noiva, à esquerda, mantém-se ligada aos pais, através de uma âncora que toca o braço da mãe. Depois, o par à direita do noivo que sugere o próprio casal Sarah-Almada: o rosto dele (semelhante ao Auto-Retrato de Almada) lembra também o Retrato de Família executado por Sarah Afonso. Para reforçar esta interpretação acresce ainda a maneira menos formal desta figura masculina (bem à maneira de Almada) e as crianças, retratadas como um par de bonecos, poderiam simbolizar os filhos de Sarah ( a filha é sempre loura).

O estilo de Sarah Afonso está bem patente nesta obra. O tema, o desenho, os elementos decorativos e a composição cromática definem a a Artista que soube associar a modernidade do traço e da cor com os valores familiares e do património cultural. Optando pela ingenuidade da representação, associa elementos da cultura cristã com o maravilhoso da imaginação.

Aqui ingenuidade não significa simplismo, antes alegria e evasão. É a sensibilidade e inteligência transpostas para uma criatividade que espelha o optimismo de quem é feliz ou pretende sê-lo!